O legado de Claudio Weber Abramo (1946-2018)

O jornalista paulistano Cláudio Weber Abramo morreu na noite deste domingo (12) aos 72 anos em São Paulo. Uma grande perda para o combate à corrupção.

Seu principal legado foi o questionamento permanente das informações oficiais.

Em 2007, publicamos reportagem sobre pesquisa da ONG Transparência Brasil –da qual era diretor executivo– revelando a “manipulação” dos Diários Oficiais nos estados, usados para promoção pessoal de governantes e sem garantir o acesso a informações de interesse público.

O último texto de Abramo neste Blog, publicado no último dia 25/7, criticava o processo eleitoral e as escolhas de dirigentes do Ministério Público, segundo ele, “a instituição mais opaca”.

A seguir, algumas frases de Abramo publicadas neste espaço:

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O problema dos privilégios da magistratura (como de qualquer categoria de funcionários públicos) jamais poderá ser solucionado levando-se em conta as opiniões dos beneficiários. (…) O que deve governar a questão é a avaliação sobre se é de fato democrático permitir-se que uma categoria de agentes do Estado goze de privilégios que ninguém mais (exceto, naturalmente, os promotores públicos) goza. [25.nov.2012]

Membros do Ministério Público e de organismos policiais acostumaram-se, ao longo dos anos, a vazar para a imprensa o conteúdo de inquéritos que se conduzem sob sua responsabilidade. (…) E o público gosta. É de fato difícil antipatizar com os vazamentos. (…) Quando se dá às autoridades judiciais liberdade para vazar certas coisas que interessam, confere-se ao mesmo tempo liberdade para não vazar o que não interessa. [16.dez.2012]

Antecipando-me a objeções no sentido de que o presidente do STF não pode relatar processos, note-se que o Regimento Interno da Corte não contém qualquer dispositivo nessa direção. [16.set.2013]

Considerando-se todas as circunstâncias apontadas há anos por quem acompanha o assunto, é de surpreender que tenha demorado tanto tempo para o ‘petrolão’ vir à luz. [15.nov.2014]

A forma mais eficaz de dificultar a vida de um órgão público é orçamentária. Há alguns anos a CGU tem experimentado cortes e contingenciamentos em seu orçamento, o que a impede de acompanhar o crescimento das estruturas de governo e a crescente sofisticação dos métodos de fraude e burla. [16.dez.2014]

Num país tão repleto de problemas no setor público, sobram palavras consternadas mas falta a disposição de se aplicarem recursos para exibi-los, entendê-los e mitigá-los. [12.mar.2015]

Faz mais de dois anos que, por opção deliberada, deixei de submeter colaborações à imprensa a respeito de corrupção, combate a ela e assim por diante. (…) Quanto ao Judiciário, bem… Não há, no universo conhecido, coisa mais mal ajambrada do que isso, a começar pelos obscenos privilégios de seus integrantes, passando pelos códigos feitos para proteger os ricos, pela impunidade administrativa de quem é incompetente e mesmo ladrão, pelo bacharelismo insuportável e tantas outras mazelas que seria cansativo enumerar. [19.jul.2017]

O mensalão e a Lava Jato permitiram o aprimoramento do direito de defesa e, como subproduto, atiçaram a fogueira das vaidades de famosos causídicos que disputam espaço e aplausos em colunas e redes sociais. [26.set.2017]

Não gozando de privilégio de foro, os fulanos poderão –para regozijo dos advogados– desencadear recursos intermináveis a todas as instâncias possíveis, terminando no STF. Não é à toa que um defensor do fim do privilégio seja Paulo Maluf. [24.nov.2017]

É evidente que a eleição do procurador-geral se dá em torno dos interesses corporativos. E, em regra, interesses corporativos são prejudiciais ao interesse público. [25.jul.2018]