CNJ aprova relatórios de inspeção sem cumprir o regimento interno

A Corregedoria Nacional de Justiça publicou notícia no site do Conselho Nacional de Justiça, informando que o plenário aprovou por unanimidade, na última terça-feira (14), os relatórios de 15 inspeções realizadas na atual gestão do corregedor João Otávio de Noronha. Na próxima sessão, nesta terça-feira (21), serão submetidos ao colegiado os relatórios de 11 estados.

A corregedoria não cumpriu os prazos previstos pelo Regimento Interno do CNJ para a apresentação desses relatórios aos membros do conselho.

O informativo oficial registra:

“De acordo com o Regimento Interno do CNJ, entre as atribuições do corregedor, está a de ‘apresentar ao Plenário relatório das inspeções e correições realizadas ou diligências e providências adotadas sobre qualquer assunto, dando-lhe conhecimento das que sejam de sua competência própria e submetendo à deliberação do colegiado as demais’”.

Ao reproduzir o artigo 8º IX do Regimento Interno, o noticiário omitiu o prazo fixado para a apresentação dos relatórios [trecho grifado abaixo]:

IX – apresentar ao Plenário do CNJ, em quinze (15) dias de sua finalização, relatório das inspeções e correições realizadas ou diligências e providências adotadas sobre qualquer assunto, dando-lhe conhecimento das que sejam de sua competência própria e submetendo à deliberação do colegiado as demais.

Consultado, o CNJ informou que não houve alteração no regimento interno.

Como este Blog já registrou, as informações sobre eventuais irregularidades identificadas em dois anos de inspeções ficaram concentradas na corregedoria nacional. A aprovação em bloco dos relatórios, em final de gestão, pode dificultar a análise pelo colegiado.

A título de exemplo, o relatório final da inspeção no Tribunal de Justiça do Maranhão –realizada no período de 27 a 31 de março de 2017– apresenta 73 recomendações e pedidos de providências.

Segundo informa a nota do CNJ, “para todas as recomendações apontadas nos relatórios serão abertos pedidos de providências”. Ou seja, essas providências poderiam ter sido tomadas meses atrás.

Quando a corregedoria foi questionada por não haver apresentado no prazo estipulado o relatório da primeira inspeção, no TJ de Sergipe, a assessoria informou que o ministro Noronha “tem adotado o procedimento de retornar aos tribunais inspecionados para reanálise e discussão dos resultados dos trabalhos da corregedoria, para somente em seguida fazer a aprovação final do relatório e sua divulgação”.

Em março, ao realizar inspeção no TJ de São Paulo, Noronha disse que é a primeira vez que a corregedoria inspeciona todos os Tribunais de Justiça do país, o que deve ocorrer até o fim de sua gestão, neste mês.

“Estamos radiografando a justiça porque queremos estabelecer um padrão mínimo de gestão, longe da ideia de terrorismo. Nosso papel é trabalharmos juntos para juntos construirmos soluções. É hora de a corregedoria conhecer a justiça brasileira. Essa é a missão do corregedor”, afirmou.

A questão foi tratada em entrevista que a presidente do CNJ, ministra Cármen Lúcia, concedeu à Folha, em maio último:

Folha O corregedor nacional, ministro João Otávio de Noronha, faz inspeções nos tribunais, mas não leva os relatórios a plenário. Ele assumiu prometendo blindar os juízes.

Cármen Lúcia – Ele vai levar agora [a plenário]. Eles queriam fazer as comparações no final. Por exemplo, por que um tribunal tem produção 30% a menos do que outro…

FolhaE quanto às eventuais irregularidades nos tribunais?

Cármen Lúcia – Acho que ele vai dar transparência. O número de processos nos quais se teve julgamentos de magistrados é muitas vezes maior do que em outras gestões.

FolhaMas presidentes punidos anos atrás, porque não cumpriram determinações do CNJ na época, foram absolvidos na sua gestão.

Cármen Lúcia – Ainda tem os casos dos que foram afastados e, depois de um tempo, mandaram voltar…

FolhaCom devolução corrigida do que não foi pago enquanto estiveram afastados por malfeitorias. Está errada essa leitura?

Cármen Lúcia – Não. Está correta.