Otavio Frias Filho, um jornalista exemplar
Devo a Otavio Frias Filho o apoio ao jornalismo investigativo que venho praticando desde 1985, quando comecei a trabalhar na Folha.
Otavio sempre foi gentil e de uma exemplar solidariedade. Foi um privilégio contar com sua amizade, experiência e incentivo.
Conheci Otavio pessoalmente em 1980, numa reunião no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo –registrada em foto pelo colega Luiz Novaes.
Na ocasião, debatia-se a questão dos colaboradores no jornal. Tínhamos opiniões distintas.
“Defender o colaborador é defender a liberdade de expressão e o direito do leitor. O ideal seria um equilíbrio entre informação e opinião, mas não acredito que isso deva ser regulamentado”, Otavio sustentou, ao lado do advogado José Carlos Dias.
Lembro-me de ter afirmado na ocasião que “as empresas têm que assumir a responsabilidade de qualificar o seu pessoal, têm que dar oportunidade para que o jornalista se especialize”. Mencionei a experiência da Gazeta Mercantil, que promovia seminários internos com economistas.
Anos depois, Otavio, que anotou esse comentário, pediu-me detalhes sobre aquela iniciativa para reproduzi-la na Folha.
Otavio era assim.
Consternado com sua morte, reproduzo a notícia publicada nesta terça-feira (21).
Nota à Imprensa – Folha de S.Paulo
Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha de S.Paulo, morreu em São Paulo nesta terça-feira, às 3h20, aos 61 anos, vítima de um câncer originado no pâncreas. À frente do jornal por 34 anos, foi o mentor do processo de modernização técnica do jornalismo na década de 1980 batizado de Projeto Folha.
Sob a direção de Otavio, a Folha se tornou o maior e mais influente jornal do Brasil, líder em circulação e em audiência, posições que veio mantendo desde então. O veículo consolidou-se como uma referênciano jornalismo apartidário, pluralista, crítico e independente.
Jornalista, ensaísta e dramaturgo, publicou “De Ponta Cabeça” (2000), “Queda Livre” (2003) e “Seleção Natural” (2009), entre outros livros. Deixa Fernanda Diamant, editora da revista literária Quatro CincoUm, com quem teve as filhas Miranda e Emilia, e os irmãos Maria Helena, médica, Luiz, presidente do Grupo Folha, e Maria Cristina, editora da coluna Mercado Aberto.
O velório ocorrerá a partir das 11h30 desta terça-feira, e a cerimônia de cremação, às 13h30, ambos no cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra.