Roberto Barroso sugere empurrar a corrupção para a margem da história

No discurso de saudação ao ministro Dias Toffoli, novo presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Luís Roberto Barroso mencionou a “tempestade política, econômica e ética” que abala o país.

“O que ocorreu entre nós, de longa data, foi um pacto oligárquico de saque ao Estado”, disse.

Barroso citou os “obstáculos poderosos” que o combate à corrupção enfrenta.

O novo presidente do STF acompanhou com interesse a saudação, tendo à sua esquerda o presidente da República, Michel Temer, e à direita, o presidente do Senado, Eunício Oliveira, ambos do PMDB.

No discurso de Toffoli, a palavra “corrupção” foi mencionada apenas duas vezes.
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Eis trechos do pronunciamento de Barroso:

O Brasil vive, como é notório, um momento difícil, abalado por uma tempestade política, econômica e ética. (…) Há na sociedade civil uma imensa e emocionante demanda por integridade, idealismo e patriotismo”.

Somos o 96º colocado no Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional. Eu acordo todos os dias envergonhado com esse número.

O que ocorreu entre nós, de longa data, foi um pacto oligárquico de saque ao Estado. Esse pacto foi renovado por diversas vezes, mesmo pelos que se apresentaram para combatê-lo.

Nenhuma batalha é invencível. A última causa que nos resta, antes de sairmos do caminho, é empurrar a corrupção para a margem da história.

A sociedade já mudou e deixou de aceitar o inaceitável. A iniciativa privada está mudando e todas as empresas relevantes deram ênfase ao setor de compliance.

O Judiciário vai mudando aos poucos. E a política também vai mudar. É preciso ter fé, votar bem e cobrar. Queremos um país melhor e maior.

O combate à corrupção no Brasil, que avançou muito, ainda enfrenta três obstáculos poderosos.

O primeiro: parte do pensamento progressista acredita que os fins justificam os meios e que a corrupção não é mais do que uma nota de pé de página na história.

Estão errados. Ela drena os recursos que deveriam contribuir para a distribuição de riqueza e bem-estar, cria uma relação pervertida entre a cidadania e o Estado e gera um ambiente geral de desconfiança entre as pessoas.

O segundo obstáculo é que parte das elites brasileiras milita no tropicalismo equívoco de que corrupção ruim é a dos adversários, dos que não servem aos seus interesses.

Em terceiro lugar estão os próprios corruptos. E aí há dois grupos: os que não querem ser punidos, o que é um sentimento humano compreensível; mas há um lote pior: o dos que não querem ficar honestos nem daqui para frente.

Em suma, há uma Nova Ordem querendo nascer e uma Velha Ordem que resiste à mudança. A Nova Ordem pressupõe a substituição do pacto oligárquico por um pacto de integridade. Com ela virá o tempo em que não será mais legítima a apropriação privada do Estado e do espaço público.

Com V. Exa. à frente do Poder Judiciário, ministro Toffoli, tenho confiança que continuaremos essa transição do velho para o novo com seriedade, empenho e harmonia entre os Poderes.