‘Aproximações sucessivas’ e dúvidas no Judiciário
Em discurso durante evento sobre segurança pública, em Novo Hamburgo (RS), o general Hamilton Mourão, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), voltou a mencionar nesta quarta-feira (24) a tese das “aproximações sucessivas”, a título de descartar a possibilidade de o Exército apoiar um projeto totalitário.
Segundo informa Fernanda Wenzel, no jornal Valor, Mourão disse que poucos o compreenderam quando falou sobre as “aproximações sucessivas”, expressão usada por ele em setembro de 2017, em uma palestra em Brasília.
Ainda segundo o jornal, “na ocasião, Mourão disse que seus companheiros do Alto Comando do Exército vislumbravam a possibilidade de uma intervenção militar caso o Judiciário não solucionasse o problema político, e que essa intervenção se daria através de ‘aproximações sucessivas'”.
O general atribuiu essas aproximações ao processo eleitoral, que, “pouco a pouco, está expurgando e tirando da vida pública aquelas pessoas que não merecem nos representar”.
A falta de maiores esclarecimentos remete à aproximação entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, e o general reformado Fernando Azevedo, a quem convidou para assessorá-lo na presidência do STF.
No final de setembro, quando questionada sobre os motivos dessa decisão, a assessoria de imprensa do STF limitou-se a responder:
“O ministro Dias Toffoli pôde constatar a qualidade do serviço prestado por oficiais das Forças Armadas quando da passagem pelo Congresso Nacional, Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República e Advocacia-Geral da União. Competência, disciplina, lealdade e dedicação estão entre as qualidades verificadas pelo ministro.”
Nesta quinta-feira (25), sob o título “Militares defendem mais moderação a campanhas na reta final da eleição”, o jornalista Igor Gielow revela na Folha que o general Fernando Azevedo “é outro esteio do arcabouço informal que se montou entre as instituições à medida que a candidatura de Bolsonaro passou a ser vista como uma realidade viável”.
A assessoria do general ao presidente do STF foi um “movimento acusado como de tutela no meio jurídico”, diz.
“Seus apoiadores creem que ele servirá como um facilitador na transmissão de informações, até para reduzir o potencial de crises quando verborrágicos bolsonaristas ocuparem lugares de destaque no novo Congresso”, afirma Gielow.