Memórias do ex-ministro sobre os anos de chumbo
Relato do advogado José Carlos Dias sobre denúncias de violações de direitos humanos entre 1964 e 1988, apuradas pela Comissão Nacional da Verdade, coloca em xeque a interpretação de que no período houve apenas um “movimento”, como entende o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli.
Durante seminário sobre os 30 anos da Constituição de 1988, ao falar sobre o golpe militar de 1964, o presidente do STF disse que hoje se refere ao período como “movimento de 1964”.
Ministro da Justiça no governo FHC, José Carlos Dias foi um dos membros da comissão instituída por Dilma Rousseff em maio de 2012.
Eis trecho da entrevista à jornalista Monica Gugliano, do jornal Valor, publicada na última sexta-feira (9):
Com a voz baixa e embargada, Dias também recorda seu último encontro com a teatróloga, professora e militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) Heleny Telles Ferreira Guariba. “Foi a coisa mais dolorosa que eu já vivi em toda minha via profissional”, afirma.
Dias era advogado dela e tentou alertá-la de que a Justiça decretara sua prisão preventiva. Eles se encontraram, Heleny foi seguida, presa e alguns meses depois executada na Casa da Morte, como ficou conhecido o centro clandestino de tortura e assassinatos mantido em Petrópolis (RJ) pelos órgãos de repressão da ditadura militar na década de 70.
(…)
“Até hoje eu me considero o instrumento dessa morte. Eu a chamei para avisar que ela seria presa mais uma vez”, afirma o advogado.