Criticado por suspender as investigações sobre Bolsonaro, Fux afaga a imprensa
Alvo de críticas por haver determinado a suspensão das investigações envolvendo o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), o ministro Luiz Fux aproveitou um evento público para reafirmar a importância da independência do magistrado e, ao mesmo tempo, exaltar o trabalho da imprensa.
No 3º Fórum Jurídico sobre Combate à Corrupção, da Escola de Magistratura Federal da 1ª Região, em Brasília, Fux disse nesta terça-feira (22) que os ministros do STF não devem ter medo de desagradar a população ao tomar suas decisões.
“O Supremo Tribunal Federal tem compromisso com a guarda da Constituição. E nenhum receio de desagradar a opinião pública, ou de cair em impopularidade, pode fazer com que um ministro do Supremo Tribunal Federal abdique da sua independência”, disse Fux.
O ministro defendeu uma parceria entre a imprensa e os órgãos de investigação como estratégia no combate à corrupção, informa Carolina Brígido, em O Globo.
“Quanto maior for a liberdade de imprensa, maior será o combate à corrupção. Foi a imprensa que inaugurou a estratégia de, ao invés de focar nos corruptos, focar nos corruptores, quando produz o noticiário. Que haja parceria legítima entre a imprensa e as instituições de combate à corrupção”, disse.
A prática de parceria, ou “simbiose”, entre a imprensa e os órgãos de investigação revelou-se prejudicial ao interesse público em passado recente.
A sociedade tem a ganhar quando o Ministério Público exerce sua atividade com independência e dá ampla divulgação aos fatos.
Jornalista não deve ser parceiro do fiscal da lei. Não parece saudável, igualmente, a ideia de maior intimidade entre a imprensa e a Polícia Federal.
O cidadão deve duvidar de certas parcerias. Em Minas Gerais, no governo do tucano Aécio Neves, foi distribuída uma cartilha em que o Ministério Público e o Tribunal de Contas eram identificados como “parceiros”. A imprensa, na época, silenciou.
No mesmo território onde hoje vêm à tona as suspeitas de ligações da família Bolsonaro com milícias, floresceu uma parceria suspeitíssima entre o Ministério Público e o Executivo, fatos que ficaram distantes da imprensa.
Houvesse maior transparência e investigação jornalística, talvez o cidadão não seria surpreendido, em novembro último, com a prisão do ex-procurador-geral de Justiça Cláudio Lopes, do Rio de Janeiro.
Ele foi acusado de receber dinheiro do então governador Sérgio Cabral (PMDB) –durante a campanha para disputar o cargo, e uma mesada, depois de assumir a chefia da promotoria.
Na gestão do então procurador-geral da República Geraldo Brindeiro, eram estreitas as relações entre a imprensa e o Ministério Público Federal. Brindeiro era chamado de “engavetador geral”, por não levar adiante denúncias contra o governo FHC, e não distribuir processos entre os subprocuradores-gerais.
Brindeiro não interferia na atuação dos procuradores que vazavam informações, mais voltados para os holofotes da mídia.
Nessa época, imperou o discurso da “simbiose entre o MP e a imprensa”, tese esvaziada pelo sucessor de Brindeiro, Cláudio Fonteles. Em congresso do MPF, Fonteles condenou a intimidade entre o MPF e a imprensa.
Em 2012, o então diretor-executivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, diagnosticava os vícios de certos tipos de parceria:
“Membros do Ministério Público e de organismos policiais acostumaram-se, ao longo dos anos, a vazar para a imprensa o conteúdo de inquéritos que se conduzem sob sua responsabilidade. (…) E o público gosta. É de fato difícil antipatizar com os vazamentos. (…) Quando se dá às autoridades judiciais liberdade para vazar certas coisas que interessam, confere-se ao mesmo tempo liberdade para não vazar o que não interessa”.