Moro não será bombeiro para aliviar imagem do governo, diz Eliana Calmon

A ex-corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon mantém a avaliação de que o ministro Sergio Moro foi estrategista ao não sofrer desgaste e nem se atritar com ninguém da equipe do governo Jair Bolsonaro. “Está seguindo o seu caminho, com muita maturidade e competência”, “empenhado em desenvolver projetos integrados”, diz.

Para a ministra aposentada, Moro “não será um ministro bombeiro para apagar incêndio, aliviando a imagem do governo”.

Em dezembro, ela afirmou à Folha que o ex-juiz federal “é um estrategista”.

“Ele conduziu a Operação Lava Jato de forma a só chegar ao Supremo ao final, quando a opinião pública já tinha se apossado dela, o que foi desgastante para os ministros. Moro sempre soube que os principais motivos do fracasso da Operação Mãos Limpas, na Itália, foram a falta de apoio popular e a crença de que o Judiciário poderia sozinho comandar o combate à corrupção”, disse Eliana na ocasião.

Eis sua avaliação sobre o anúncio do Projeto de Lei Anticrime nesta segunda-feira (4):

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A nação inteira já estava ansiosa com o silêncio de Sergio Moro.

Quase todos os ministros se pronunciaram, batendo a cabeça uns nos outros com afirmações, desmentidos, pedidos de desculpas e desencontros e Moro silencioso.

Não foram poucas as cobranças a ele endereçadas das miudezas sobre o filho do presidente, disse me disse de Onix, indiscrições do vice e vai e volta de alguns ministros.

Com o anúncio do seu projeto que classificou como sendo um processo de mudança na esfera da segurança pública, o primeiro desde que tomou posse foi dado o recado:

1) o projeto estava sendo estudado a partir da realidade encontrada pela equipe, sem açodamento ou prato feito antes do conhecimento de causa;

2) não será um ministro bombeiro para apagar incêndio, aliviando a imagem do governo. Será um ministro empenhado em desenvolver projetos integrados, voltados para os objetivos finais da sua pasta;

3) as questões investigativas que estiverem na alça de mira do Ministério Público e da Justiça não dizem respeito ao seu mister, voltado para a realização de um modelo a ser traçado nas três pontas: combate à corrupção, ao crime organizado e ao crime violento;

4) se infringida a lei que será elaborada segundo o modelo traçado, o problema não será com o Ministério da Justiça e sim com a Polícia, o Ministério Público e a Justiça.

Enfim, segundo minha visão o Moro, com muita maturidade, não será um ministro de ocasião, ocupando-se em agradar ao presidente da República ou à opinião pública.

Futricas e assuntos periféricos estão fora da sua pasta, que será voltada inteiramente para a construção de projetos integrados e suas realizações.

Foi estrategista? Sim, não sofreu desgaste, não disse nem desdisse, não se atritou com ninguem da equipe do governo. Está seguindo o seu caminho, traçado, segundo penso, pelo que ouvi do seu primeiro e único pronunciamento, com muita maturidade e competência.