Recuo de Sergio Moro desgasta a imagem de superministro da Justiça
Ao revogar a nomeação de Ilona Szabó de Carvalho como suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, por pressão do presidente Jair Bolsonaro, Sergio Moro contribuiu para esvaziar a imagem de superministro criada quando o ex-juiz da Lava Jato decidiu abandonar a toga.
Os choques políticos eram previstos. O que não se imaginava era esse desgaste ainda no início da gestão.
Gilson Dipp, ex-corregedor nacional de Justiça, previu em dezembro, em reportagem na Folha:
“É preciso que Moro se cerque de pessoas competentes. Ele exercerá um cargo eminentemente político. Vai conviver com pares altamente comprometidos, enfrentar pressões, e não tem o comando da situação”.
Szabó é uma pessoa competente, o que foi reconhecido por Moro ao convidá-la, e, depois, ao revogar a nomeação.
Ela é especialista em segurança pública, tem mestrado pela Universidade de Uppsala, na Suécia. É cofundadora e diretora-executiva do Instituto Igarapé, que produz pesquisas sobre segurança, justiça e desenvolvimento, além de colunista da Folha.
As pressões políticas confirmaram a antevisão de Dipp.
Reportagem de Paulo Saldaña e Gustavo Uribe, da Folha, revela que militantes passaram a atacar Moro nas redes sociais, lembrando as divergências de Szabó em relação ao governo em temas como armamento e política de drogas, além do fato de ela ter se posicionado contra a candidatura de Bolsonaro.
Ainda segundo os jornalistas, “Moro tentou convencer insistentemente o presidente de que a especialista era um bom nome e que questões ideológicas não iriam interferir”.
Szabó lamentou o episódio: “Quem ganha é a polarização. Perde a pluridade e o debate de ideias, tão fundamentais numa democracia”.
Em nota, o Ministério da Justiça afirmou: “Diante da repercussão negativa em alguns segmentos, optou-se por revogar a nomeação, o que foi previamente comunicado à nomeada e a quem o ministério respeitosamente apresenta escusas”.
“A escolha foi motivada pelos relevantes conhecimentos da nomeada na área de segurança pública e igualmente pela notoriedade e qualidade dos serviços prestados pelo Instituto Igarapé”, ainda segundo a nota.
Saldaña e Uribe registram que Moro “acabou desautorizado e frustrado por ter que revogar a nomeação tão rapidamente”.