O projeto anticrime de Moro e o jogo duro na política

As cobranças do ministro Sergio Moro sobre a tramitação do projeto de lei anticrime e a reação irritada do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para quem “o funcionário do presidente Bolsonaro” estava “confundindo as bolas”, revelam o mundo real da política e a que ponto pode chegar a falta de diálogo entre os Poderes na atual conjuntura.

Segundo reportagem de Talita Fernandes e Thais Arbex, na Folha, “na noite de quarta, Maia desqualificou o projeto anticrime apresentado por Moro dizendo que o texto é um ‘copia e cola’ de proposta sobre o mesmo tema que foi apresentada no passado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF”.

“O deputado disse ainda que o projeto prioritário é o apresentado por Moraes, quando esse ainda era ministro da Justiça, ainda no governo de Michel Temer (MDB). Segundo Maia, a votação do pacote se dará no futuro, após a Casa analisar a reforma da Previdência, considerada crucial para o governo Bolsonaro”.

Se a pendenga resistir até abril, a acusação de cópia feita pelo presidente da Câmara poderá ser conferida (ou enterrada) em evento de magistrados da área criminal, em São Paulo: o Terceiro Encontro do Fórum Nacional de Juízes Criminais (Fonajuc).

Alexandre de Moraes fará a palestra de abertura. Sergio Moro foi convidado em fevereiro pela diretoria do fórum. Segundo um dos dirigentes, Moro disse que as urgências de sua agenda não permitiam assumir o compromisso na data, mas que tentaria comparecer.

A visita foi divulgada na época em informativo do fórum:

“Na ocasião, foram discutidos temas da atualidade, como projeto de lei anticrime, plea bargain e combate à corrupção”.

“O Fonajuc também informou ao ministro Moro que o fórum possui um grupo de trabalho debruçado exclusivamente sobre os projetos de lei”.

Em nota, ao comentar as declarações de Rodrigo Maia, Sergio Moro afirmou:

“A única expectativa que tenho, atendendo aos anseios da sociedade contra o crime, é que o projeto tramite regularmente e seja debatido e aprimorado pelo Congresso Nacional com a urgência que o caso requer. Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais”.

“Essas questões sempre foram tratadas com respeito e cordialidade com o presidente da Câmara, e espero que o mesmo possa ocorrer com o projeto e com quem o propôs”.