Maluf: meio século do símbolo folclórico da corrupção

Frederico Vasconcelos

Há 50 anos, Paulo Maluf assumiu a prefeitura de São Paulo afirmando que “a palavra de ordem é trabalhar”, registra a Folha nesta terça-feira (9).

Sobre o golpe militar de 1964, Maluf disse ao tomar posse que “a revolução não se limitou a manter a ordem pública, a restabelecer a autoridade, a combater a ideologia marxista-leninista e a punir corruptos. Ela transmitiu a confiança nas instituições democráticas”.

Há exatamente 30 anos, em abril de 1989, ao tratar de confiança nas instituições, o editor deste Blog revelou que um acordo de acionistas, registrado em Bolsa, estabeleceu que Paulo Maluf não poderia presidir a Eucatex, empresa da família, nem indicar o administrador da companhia nos vinte anos seguintes.

“O mundo dos negócios entendeu esse pacto como uma disputa familiar pelo controle da empresa“, escrevi em análise de 2005.

O mundo político não viu no acordo uma advertência: se parte da família entendia que Maluf não era o mais indicado para gerir os negócios do próprio clã, como imaginar que ele seria um bom administrador da coisa pública?

Há três anos, escrevi no Facebook:

“Quando Maluf afirmou que ‘faz de conta que trabalha’ na Câmara Federal, lembrei-me daquele jingle do candidato a governador: ‘São Paulo é Paulo porque Paulo é trabalhador’. E do slogan ‘Maluf que fez, Maluf que faz’. Não me arrisco a contestar, mas prefiro o samba do Ismael Silva: ‘Nem tudo que se diz se faz'”.

Há dois anos, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal condenou por maioria Paulo Salim Maluf –“símbolo de corrupção ao longo de décadas no folclore brasileiro”, segundo editorial da Folha– pelo crime de lavagem de dinheiro.

Escrevi, na ocasião: “A decisão do STF deverá enterrar de vez o bordão “Paulo Maluf não tem nem nunca teve conta no exterior”.