Os Aras querem a cadeira de Dodge

Os baianos Vladimir Aras e Augusto Aras, membros do Ministério Público Federal, são primos e pré-candidatos a ocupar a cadeira da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a partir de setembro.

Eles estão em lados opostos na disputa.

Augusto é subprocurador-geral da República, atua na capital federal. Vladimir é procurador regional da República, também trabalha em Brasília.

Augusto nasceu em 1958, em Salvador, e ingressou no MPF em 1987. O soteropolitano Vladimir nasceu em 1971 e é membro do MPF desde 1993.

Vladimir é ligado ao ex-procurador geral da República Rodrigo Janot. Augusto, à atual PGR, Raquel Dodge. São conhecidas as divergências entre Dodge e Janot.

Raquel Dodge nomeou Augusto coordenador da 3ª Câmara do MPF (consumidor e ordem econômica). Vladimir é coordenador do Grupo de Apoio ao Tribunal do Júri Federal (GATJ) da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF.

Vladimir tem maior exposição pública: atuou no caso Banestado e na Lava Jato, cujos processos foram julgados pelo ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

Vladimir foi secretário de Cooperação Jurídica Internacional da PGR.

Pouco conhecido fora da PGR, Augusto ganhou evidência neste sábado, em reportagem de Reynaldo Turollo Jr., na Folha. Ele admitiu disputar o cargo “por fora” da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

Ele considera o modelo atual sindicalista e põe o sistema de votação sob suspeita.

Já Vladimir só admite candidatura por meio da lista tríplice. Ele foi diretor jurídico da ANPR (2011-2013) e atualmente é diretor de assuntos legislativos.

Augusto também fez um aceno ao presidente Jair Bolsonaro, informa Turollo Jr.

“Nós apenas apresentamos, esta semana, o nosso nome a colegas no MPF e a alguns amigos nos ambientes acadêmico, político, Judiciário, religioso. Isso significa que nós reconhecemos a autoridade do sr. presidente da República para indicar aquele que entender mais adequado”, disse o subprocurador-geral.

Em dezembro, Augusto manifestou ao jornal “Tribuna da Bahia” a expectativa de que “podemos ter no governo Bolsonaro uma democracia militar”.

Segundo ele, “o fato de termos um governo em que, pelo menos, metade do ministério tem militares na chefia revela uma dificuldade para o fisiologismo”.

Augusto se define como conservador, estilo que não cabe no perfil do primo Vladimir.

Em junho do ano passado, Augusto tomou posse como membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), no Rio de Janeiro.

“Sou advogado há 40 anos e só me tornei membro do Ministério Público Federal porque fui autorizado a continuar militando, quando isso era permitido, respeitando os meus impedimentos para atender como advogado à instituição”, afirmou na ocasião.

Primo mais velho, Augusto diz que a gestão de Raquel Dodge tem sido “parcimoniosa, sóbria”.

“É uma pessoa muito séria, buscou sanar várias dificuldades postas dentro da instituição pelo antecessor. Resgatou uma postura equilibrada da instituição perante o estado e a sociedade brasileira”, diz.

Primo mais novo, Vladimir escreveu no Twitter sobre Raquel Dodge, em fevereiro: “Pela primeira vez um chefe do Ministério Público Federal jogou a opinião pública contra os membros da própria instituição”.

Ele se referia ao chamado “Projeto Dodge”, segundo o qual processos relevantes seriam “conduzidos por procuradores escolhidos a dedo pela cúpula da instituição”.

A medida gerou um manifesto, contra o fim da independência funcional no MPF, com mais de 500 assinaturas.

Vladimir disse que “pelo seu projeto, a Sra. Procuradora-geral pagaria gratificação aos ‘procuradores de aluguel'”, aos quais também chamou de “marionetes” ou “procuradores fantoches”.

“Como a honra e a disciplina para as organizações militares, a independência funcional é um valor institucional do Ministério Público. E não tem preço”, afirmou Vladimir.

No final de março, o vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, número dois na gestão Dodge, defendeu no Conselho Superior do Ministério Público Federal que a chefia da PGR é prerrogativa exclusiva dos subprocuradores-gerais —o que levou colegas a apontá-lo como um articulador desse movimento.

À Folha Maia negou que pretenda judicializar a questão, mas criticou o entendimento da ANPR de que qualquer membro do Ministério Público Federal pode assumir o comando da instituição.

Essa proposta poderia favorecer Augusto Aras, subprocurador-geral que não tem votos internos para liderar a lista tríplice, e eliminar do páreo o primo Vladimir, procurador regional que tem  mais visibilidade dentro e fora do MPF.