Juízes mineiros temem esvaziamento da primeira instância com novo TRF
Juízes federais de Minas Gerais estão preocupados com os efeitos da criação do novo Tribunal Regional Federal da 6ª Região, que terá sede em Belo Horizonte (MG).
O TRF-6 resultará de desmembramento do TRF-1, que tem sede em Brasilia e jurisdição em 13 estados e no Distrito Federal.
Minas Gerais responde por 35% dos processos julgados no TRF-1.
Embora considerem insustentável o acúmulo de processos no TRF-1, eles preveem o esvaziamento da primeira instância da Justiça Federal em Minas Gerais, com a eliminação de cargos e extinção de varas.
Teme-se que o discurso de “custo zero” resulte na dilapidação do primeiro grau, que perderá servidores e estrutura material para ceder lugar a um tribunal, com 18 desembargadores, que já nascerá com sobrecarga: estima-se que cada gabinete do TRF-6 receberá 15 mil processos.
Em reunião realizada nesta quinta-feira (23), na Associação dos Juízes Federais de Minas Gerais (AJUFEMG), eles tomaram conhecimento da proposta aprovada pelo Conselho da Justiça Federal (CJF), no dia 20.
Autor da proposta, o ministro João Otávio de Noronha, presidente do CJF, diz que o TRF-6 será criado “sem alteração no orçamento da Justiça Federal, aproveitando e redistribuindo recursos dentro do orçamento em vigor”.
“Não terá nenhum aumento adicional ao erário, nem à União. Essa foi a nossa preocupação, pois sabemos que o momento é difícil e de contenção de gastos”, afirma.
A partir de processo relatado por Noronha, o modelo do novo tribunal é baseado em três premissas:
a) modernização tecnológica (tribunal 100% eletrônico, com investimento na automação, uso de inteligência artificial e gabinetes compactos);
b) modernização organizacional (reestruturação da primeira instância, compartilhamento entre estruturas administrativas de 1ª e 2ª instâncias, secretaria unificada das Turmas e Seções, e transporte compartilhado entre os desembargadores, à exceção do presidente, vice-presidente e corregedor);
c) implantação com baixo impacto financeiro (reaproveitamento da estrutura física, aproveitamento da mão-de-obra terceirizada e compartilhamento de estruturas administrativas.
Serão extintas seis das 34 varas da Seção Judiciária de Minas Gerais, dentre elas uma vara criminal que cuida de crimes financeiros.
Essas varas serão aglutinadas e passarão a funcionar com uma secretaria única.
A título de exemplo: uma vara criminal da capital, que opera na estrutura atual com 15 servidores, terá esse número reduzido para 7.
Hoje, a vara mantém juiz titular e juiz subtituto, cada qual com dois servidores nos gabinetes, e um diretor de secretaria com dez funcionários.
Na estrutura proposta pelo CJF, a vara será substituída pelo juízo criminal, com apenas sete servidores. No lugar do diretor de secretaria, haverá um coordenador, com dois servidores.
Atualmente, a carga de trabalho por desembargador nos TRF-1 é 260% maior que a média dos demais TRFs.
Os cinco tribunais regionais federais apresentam os seguintes volumes (considerando casos novos e pendentes, mais recursos internos julgados e pendentes):
TRF-1 (sede em Brasília): 26.151,8; TRF-2 (Rio de Janeiro): 6.151,0; TRF-3 (São Paulo): 14.001,5; TRF-4 (Porto Alegre): 12.701,9 e TRF-5 (Recife): 7.384,1.
Nesta terça-feira (28), o CJF vai deliberar sobre a minuta do anteprojeto, em julgamento por videoconferência. A proposta será remetida ao STJ que, posteriormente, submeterá o texto do anteprojeto ao Congresso Nacional.