O poder do fogo amigo na Polícia Federal
Merece leitura atenta o artigo “Três policiais sob o escrutínio dos ‘otarianos‘”, de Maria Cristina Fernandes, publicado nesta sexta-feira (7) no Valor.
Trata de debate realizado em maio, na USP, com os três últimos diretores da Polícia Federal, Luiz Fernando Correa, Leandro Daiello e Rogério Galloro, convidados para falar sobre o enfrentamento da corrupção e do crime organizado.
Correa e Daiello já estão aposentados. Galloro assessora a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Rosa Weber.
Em resumo, anuncia a jornalista, os três ex-delegados-gerais da PF “pedem mais autonomia ante uma plateia acadêmica cada vez mais ameaçada pela perda da sua”.
O encontro inédito reuniu pesquisadores no Instituto de Estudos Avançados da USP. Foi apresentado pelo professor Rogério Arantes, estudioso sobre o sistema judicial.
Arantes não deu divulgação prévia mais ampla para deixar os debatedores mais à vontade.
“Durante seis horas, intercaladas por almoço, os delegados mostrariam como o treino em interrogatórios lhes ensinara, por tabela, a deles se desviar”, diz Fernandes.
Na primeira fila, em silêncio durante o debate, estava Roberto Troncon, delegado na ativa da PF, ex-diretor do Departamento de Combate ao Crime Organizado.
Dez anos atrás, lembra a jornalista, em plena operação Satiagraha Troncon estava no comando de uma reunião de delegados, gravada e disponível na rede, “como o documento público da maior lavagem de roupa suja da corporação”.
A Polícia Federal é “uma instituição que, de tão poderosa, sempre teve no fogo amigo a maior ameaça à sua atuação”, diz Fernandes.
Sobre a demanda corporativa de maior autonomia administrativa, Rogério Arantes disse durante os debates que “nenhuma polícia no mundo tem tanta autonomia”.
Uma semana depois, o presidente Jair Bolsonaro assinou decreto com a nomeação de 1047 candidatos aprovados no concurso público do ano passado, um acréscimo de quase 10% no efetivo da Polícia Federal.
O diretor do IEA agradeceu a participação dos policiais no debate, “em nome do que chamou de ‘otarianos’, aqueles que vivem de ensino e pesquisa com orçamento e autonomia ameaçados”.