General Heleno no olho do furacão e de olho na luneta

Na coluna deste sábado (22), na Folha, Demétrio Magnoli trata da subordinação dos militares ao poder civil.

“Os que não têm armas cuidam da política; os que têm armas ficam proibidos de fazer política”, lembra a tradição das Forças Armadas nos Estados Unidos.

No governo Bolsonaro, “[Hamilton] Mourão, Augusto Heleno e Santos Cruz, a troika militar original, foi constituída por generais da reserva. A separação era mais formal do que efetiva, pois o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas opera como ponte entre a troika e o atual comandante, Edson Pujol”, afirma Magnoli.

“Os três traçaram um prudente círculo de ferro discursivo, distinguindo-se da radicalização ideológica bolsonarista. O metal, porém, começa a sofrer visível corrosão”, diz.

“O general que identifica Moro à pátria e clama pela condenação de Lula à prisão perpétua ainda mantém, no armário, a sua farda estrelada”, observa o colunista.

“Eu nunca quis ser político, mas nunca fui desligado da política”, disse o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), em almoço com os jornalistas Cristiano Romero e Monica Gugliano, do jornal Valor.

Apresentado como o ministro mais próximo de Bolsonaro e figura crucial para manter o equilíbrio no governo, o militar confirma sua vocação para estar no “olho do furacão” –expressão que dá título à reportagem publicada no caderno “Eu & Fim de Semana”.

“Somos militares da reserva, fomos muito bem formados, estudamos muito e ainda podemos prestar bons serviços ao país”, reagiu Heleno “à primeira das críticas feitas à grande presença de militares em cargos civis da nova gestão”.

Sobre a candidatura de Bolsonaro, Heleno revela que, se era visível o crescimento da popularidade do possível candidato em determinados segmentos, o mesmo não se via ainda na sociedade em geral e em alguns setores das Forças Armadas.

“Não estávamos acostumados com militar político. Era considerado coisa repugnante. Político é político, militar é militar, não é?”

“Uma parte da sociedade nos via como perigo para a democracia e outra parte nos considerava, acho que por terem mais proximidade conosco, importantes para garantir a democracia”, disse.

“O almoço recebe um convidado que não estava previsto”, segundo a reportagem: o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército.

“A conversa é interrompida, ainda que por pouco tempo”, relatam Romero e Gugliano. Hoje assessor especial do GSI, Villas Bôas recebeu do ministro Heleno “um carinhoso beijo na testa”.

Como a disciplina militar não estimula improvisos e imprevistos, a presença do ex-comandante sugere uma demonstração pública de prestígio do anfitrião.

O ministro Heleno reservou para a hora da sobremesa um episódio que viveu no período de adaptação ao estilo de Itamar Franco -o “presidente mercurial que, entre outras manias, detestava a segurança”, como registraram os jornalistas.

“Em Juiz de Fora, Itamar não aceitava segurança de jeito nenhum. Aí eu peguei, botei uma luneta no último andar do prédio. O cara ficava lá, olhando dentro do apartamento dele. Quando ele trocava de roupa, o cara avisava. Era o sinal de que ia sair de casa”, recorda Heleno às gargalhadas.

É o militar político revelando seu lado operacional.