Procurador da República convidou Moro para proferir palestra em 2016
O procurador da República Celso Antônio Três foi autor do convite ao então juiz federal Sergio Moro para proferir palestra em Novo Hamburgo (RS), no dia 21 de setembro de 2016, sob o tema “Enfrentamento da corrupção sistêmica“.
Reportagem publicada neste domingo (4) na Folha, com base em mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil, revela que “Moro omitiu palestra remunerada em prestação de contas como juiz federal”. [veja aqui]
Três foi filiado ao PT nos anos 80, atuou na fase inicial do caso Banestado –investigação sobre bilionária lavagem de dinheiro no Paraná julgada pelo juiz Sergio Moro. O procurador atraiu a antipatia da força-tarefa da Lava Jato ao redigir documento criticando as “10 Medidas Contra a Corrupção”, propostas defendidas por Moro e pelos procuradores de Curitiba.
Ele atua na Procuradoria da República em Novo Hamburgo. Participa de programa semanal de debates na Rádio ABC, do Grupo Sinos, entidade empresarial que viabilizou a palestra de Moro.
A intermediação do procurador foi revelada em mensagem ao editor deste Blog em 15 de março de 2017, dois dias antes da publicação de reportagem em que Três fazia críticas à divulgação de delações da Operação Lava Jato [veja aqui].
A menção à palestra do juiz no Grupo Sinos foi feita quando este editor pediu informações ao procurador sobre suas críticas à operação e seu relacionamento com a força-tarefa.
Três escreveu na mensagem:
“A meu convite, promoção do Grupo Sinos de mídia aqui de Novo Hamburgo, Sérgio Moro esteve, em 2016, palestrando no Teatro Feevale; grande evento, repercussão nacional, lotou os cerca de 2 mil lugares, ingressos todos vendidos antecipados em tempo recorde, coisa que sequer dupla sertaneja das mais famosas conseguiu”.
Em seguida, afirmou: “Não tenho contato com o pessoal da Lava Jato. Até porque fiz críticas às ’10 medidas’“.
Na reportagem publicada dois dias depois, Celso Três afirmou que a operação Lava Jato “é a maior investigação da história; depois dela, tudo será pequeno.”
Neste domingo, o procurador autorizou a transcrição da mensagem pessoal enviada em 2017, e acrescentou:
“Eu o convidei; à época [Moro] teve grande preocupação em saber quem promovia, caso pudesse ter algum conflito com a Lava Jato; destinou parte do valor a entidade assistencial; não referi pagamento, entendi implícito, eis que ingressos pagos.
O Grupo Sinos noticiou que os ingressos custaram entre R$ 60 e R$ 90, e que “foi a primeira palestra de Moro no Rio Grande do Sul”. “O evento teve apoio do Sindilojas Fecomércio e patrocínio da Doctor Clin.”
Segundo a Folha revelou neste domingo, a assessoria do ministro Sergio Moro enviou ao jornal comprovante de um depósito de R$ 10 mil feito pelo Grupo Sinos na conta do Pequeno Cotolengo do Paraná, entidade que atende pessoas com deficiência, no dia 16 de setembro de 2016.
“Não foi divulgado à época que o então juiz era o responsável pela doação, pois buscava-se evitar autopromoção com caridade”, afirmou o ministério. “A família do então juiz tem um histórico de dedicação à causa das pessoas com deficiência”.