Corporativismo e outros mitos na sucessão de Raquel Dodge na PGR

Um dos critérios deste Blog é não estimular bolsas de apostas de pretendentes a cargos públicos. Igualmente, não apoia e nem desaprova candidatos à presidência de entidades de classe.

Parece inadequado, contudo, considerar que os subprocuradores-gerais Mario Bonsaglia, Luiza Cristina Frischeisen e Blal Dalloul, mais votados para suceder a Raquel Dodge na lista tríplice da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), representem a “ala corporativista” do Ministério Público Federal.

Foi o que sugeriu o subprocurador-geral Augusto Aras –que não se submeteu ao escrutínio dos colegas–, ao relatar encontro com o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista nesta segunda-feira (12) a Reynaldo Turollo Jr., da Folha. [veja aqui]:

“O assunto principal foi a questão da lista tríplice, formada pela ala corporativista do Ministério Público Federal. Eleições internas para esses cargos do topo não podem se submeter ao princípio da majoritariedade por conta do toma lá, dá cá, do fisiologismo, do clientelismo, dos vícios que tomam conta do Ministério Público”.

Bonsaglia e Frischeisen exerceram com dedicação seus mandatos no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Estiveram à frente de relevantes inquéritos criminais (Bonsaglia sofreu ameaças) e participaram de vários grupos de estudos.

Frischeisen coordenou o Grupo de Trabalho que elaborou o “Diagnóstico da Justiça Militar Federal e Estadual”. Foi homenageada pelo Superior Tribunal Militar, junto com outros membros do CNJ, pelo diagnóstico da Justiça Militar da União, segmento que tem sido cortejado pelos governantes do momento. [veja aqui]

Blal Dalloul foi secretário-geral do MPF/MPU. Sua indicação como terceiro mais votado da lista deve ser vista como natural reconhecimento de sua popularidade entre os colegas.

O Blog publicou uma série com o perfil de todos os candidatos que se submeteram à lista tríplice.

Também abrigou artigo que questiona os critérios e vícios no processo de escolha pela ANPR. [veja aqui]

Igualmente, abriu espaço à ANPR para a réplica. [veja aqui]

Dedicou um post às divergências entre Augusto Aras e seu primo, Vladimir Aras. [veja aqui]

Em lados opostos na disputa, o primeiro considera o modelo atual da ANPR sindicalista e põe o sistema de votação sob suspeita. Já Vladimir só admite candidatura por meio da lista tríplice. Concorreu e não ficou entre os mais votados.

Augusto Aras mantém a expectativa de que “podemos ter no governo Bolsonaro uma democracia militar”.