Promotora que apoiou Bolsonaro deixa investigação do assassinato de Marielle
A promotora de Justiça Carmen Eliza Bastos de Carvalho, do Ministério Público do Rio de Janeiro, decidiu se afastar das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).
O afastamento foi divulgado nesta sexta-feira (1) em nota do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Em carta aberta, a procuradora afirma que, “em razão das lamentáveis tentativas de macular minha atuação séria e imparcial, em verdadeira ofensiva de inspiração subalterna e flagrantemente ideológica, cujos reflexos negativos alcançam o meu ambiente familiar e de trabalho, optei, voluntariamente, por não mais atuar no Caso Marielle e Anderson”.
A decisão foi tomada depois da divulgação de fotos da promotora durante a campanha eleitoral de 2018, em apoio ao então candidato a Presidência Jair Bolsonaro (PSL), e ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), que quebrou a placa em homenagem à vereadora assassinada.
O MPRJ informou que, “diante da repercussão relativa às postagens da promotora em suas redes sociais, a Corregedoria-Geral instaurou procedimento para análise”.
No comunicado à imprensa, a procuradoria-geral de Justiça afirma que “reconhece o zeloso trabalho exercido pela promotora”, que nos últimos dias “vem tendo sua imparcialidade questionada, o que afeta sua atuação funcional, por exercer sua liberdade de expressão como cidadã”.
Nesta sexta-feira, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ) recebeu os pais de Marielle Franco, Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva, e a viúva de Anderson Gomes, Agatha Arnaus Reis, que defenderam a permanência de Carmen Eliza à frente do processo penal, em andamento no Tribunal de Justiça.
“No entanto, em razão dos acontecimentos recentes, que avalia terem alcançado seu ambiente familiar e de trabalho, Carmen Eliza optou voluntariamente por não mais atuar no Caso Marielle Franco e Anderson Gomes”, informa o MPRJ.
Eis trechos da manifestação da promotora, sob o título “Nota de Esclarecimento à Sociedade” :
“Como cidadã, exerço plenamente os direitos fundamentais a todos assegurados pelo artigo 5º da Constituição da República, com destaque para a liberdade de expressão, que garante a livre manifestação de minha opção política e ideológica”.
“O promotor de Justiça não perde a sua qualidade de cidadão”.
“Durante toda a minha vida funcional, que exerço há 25 anos no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, jamais atuei sob qualquer influência política ou ideológica”.
“Não há, nesses 25 anos, um só episódio que tenha sido apontado como comprometedor de minha imparcialidade na atuação funcional”.
“Ao contrário, são anos de luta isenta pela punição de quem atenta contra o maior bem jurídico de cada um de nós: o direito à vida. A exemplo da vida, a liberdade e a honra de todos nós devem ser igualmente respeitadas”.