O geógrafo Milton Santos ficava muito incomodado quando os comissários de bordo dos aviões brasileiros respondiam, automaticamente, em inglês ou francês, a uma pergunta que ele tinha feito em português.

“Para os comissários, elegante e educado como ele era, só poderia ser um embaixador de um país africano”, afirma Pedro de Almeida Vasconcelos, autor do livro “O universo conceitual de Milton Santos“. (*)

A obra será lançada nesta quarta-feira (16), durante evento virtual, em Salvador (BA). (**)

O comentário sobre as gafes a bordo foi feito pelo geógrafo baiano, quando convidou o autor para jantar em um restaurante italiano, em Paris.

Com pós-doutorado em Sorbonne (Paris, França), Ph.D em Geografia (Ottawa, Canadá) e mestrado em Urbanismo (Louvain, Bélgica), Vasconcelos é professor do programa de pós-graduação em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social da Universidade Católica de Salvador (UCSAL).

“Quando fui realizar meu estágio de pós-doutorado na Sorbonne, tive a oportunidade de me encontrar várias vezes com Milton Santos, inclusive assistindo suas conferências”, narra Vasconcelos.

“Um dos conselhos que recebi foi, na França, sempre me vestir com paletó e gravata, pois com o título de Professor Titular tínhamos o total reconhecimento dos colegas franceses, inclusive éramos os únicos convidados a participar em bancas de doutorado”, relembra.

Segundo Vasconcelos, o objetivo do livro é destacar mais as questões conceituais do que propriamente a vida de Milton Santos, de quem foi amigo.

A parte mais original é o capítulo que trata das noções, conceitos e categorias propostos por Milton Santos como contribuição científica ao pensamento geográfico.

“Não é simples fazer um balanço da vida e da produção deixada por Milton Santos (1926-2001), que contabiliza a publicação de mais de 40 livros e mais de 300 artigos”, diz o autor.

Vasconcelos examinou 30 dos principais livros.

Eis como ele resume, na apresentação da obra, a contribuição intelectual de Milton Santos:

“Milton Santos teve que enfrentar vários obstáculos, não só o de ser negro numa sociedade que guarda um grande peso do passado escravista; como de ser nordestino, num país em que o preconceito regional também é forte; e de ser geógrafo por opção, numa academia que, na época, desconsiderava a disciplina”.

“Milton Santos conseguiu levantar a autoestima dos negros, na medida em que se destacou como intelectual; como nordestino impôs-se como professor titular da maior universidade brasileira, a Universidade de São Paulo; e como geógrafo, teve o reconhecimento internacional, com o recebimento do Prêmio Internacional de Geografia Vautrin-Lud, o equivalente ao Nobel na área da Geografia”.

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(*) Vasconcelos, Pedro de Almeida. O universo conceitual de Milton Santos. – 1. ed. Curitiba [PR] CRV, 2020. 218 páginas.

https://www.editoracrv.com.br/

(**) O VI Simpósio Nacional o Rural e o Urbano no Brasil (SINARUB)e o V Seminário Nacional de Planejamento e Desenvolvimento (SNPD) acontecerá em Salvador, de 16 a 19 de setembro de 2020