Derrotado em Santos, Ivan Sartori diz que Bolsonaro turbinou candidatura
O desembargador aposentado Ivan Ricardo Garísio Sartori, 63, ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, foi o segundo colocado nas eleições para a prefeitura de Santos (SP). O candidato da situação, Rogério Santos (PSDB), foi eleito em primeiro turno com 51,12% dos votos.
Numa eleição com dez candidatos, Sartori (PSD) recebeu 18,33% dos votos. Ele atribui o resultado ao apoio do presidente Jair Bolsonaro, que “turbinou a candidatura, com certeza”. Sartori obteve 37.231 votos.
“Foi uma votação expressiva, diante da abstenção de 40%. Lamentavelmente, o pessoal não compareceu, todo mundo [estava] na praia ou [não votou] por conta da Covid”, diz.
“Devo muito a Deus, e, lógico, à minha biografia também, mas muito ao presidente Bolsonaro. Eu acredito que ele só me ajudou”, diz Sartori.
Seu voto pela absolvição de 74 réus do massacre do Carandiru, invocando a tese da legítima defesa, o aproximou em 2016 do capitão e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Sartori foi alvo de protestos de organizações de defesa dos direitos humanos.
Em outubro último, segundo reportagem de Klaus Richmond, na Folha, Bolsonaro declarou, numa live, sobre Sartori: “Em Santos, é uma pessoa conhecida de todo mundo. Espero que ele cresça nas pesquisas, cresça frente à opinião pública.”
Bolsonaro e Sartori estiveram juntos no dia 22 de outubro, em Brasília, num encontro a portas fechadas. “Pedi apoio e ele [Bolsonaro] sinalizou positivamente, dentro de suas possibilidades, dado o cargo que ocupa”, disse Sartori, na ocasião, à Folha.
Sartori vestiu a camisa de Bolsonaro muito antes das eleições de 2018. Ainda desembargador na ativa, postou foto no Facebook, com os dizeres “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Ele alegou que “a postagem não se enquadra no conceito de atividade político-partidária e que a expressão utilizada é de domínio público, não sendo exclusividade de partido político ou candidato”.
Em 2018, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) arquivou os procedimentos contra 11 magistrados que se manifestaram nas redes sociais durante o período eleitoral.
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Eis a íntegra de entrevista –via WhatsApp—concedida nesta segunda-feira (16).
Blog – Como o sr. avalia sua votação?
Ivan Sartori – Eu avalio muito bem. Achei uma votação expressiva. Lamentavelmente, quase 40% do eleitorado não compareceu. Isso dificultou bastante. O dia estava muito bonito, muita gente na praia. Perdemos o segundo turno por menos mil votos. Mas a gente sabe também que a máquina foi utilizada de uma forma escancarada. Representei junto à Justiça Eleitoral, demonstrei isso. É sempre assim no Brasil, o coronelismo impera. A gente não imagina como a máquina é utilizada por quem está na situação. E senti na pele, sendo candidato.
Qual a influência do apoio do presidente Jair Bolsonaro?
O apoio de Bolsonaro teve muita influência. Turbinou a candidatura, com certeza. 50% do eleitorado está com ele. Evidentemente, isso ajudou bastante.
Os votos obtidos –como segundo colocado numa eleição com vários candidatos– o estimulam a continuar na política?
Com certeza. A gente já tinha o capital político no Tribunal de Justiça e agora, com a eleição de Santos, vamos continuar nosso caminho. Vamos procurar saber quais as estratégias que vamos seguir para ajudar a população, que está precisando.
Como o sr. avalia as análises que mostram o insucesso de candidatos que apoiaram o presidente?
Essa questão de transmitir votos é muito peculiar. Muitas pessoas não conseguem transmitir votos. Isso não significa que o presidente tenha tido uma queda no seu apoio popular. Mas, é lógico, estamos passando por uma situação complicada, difícil. O povo está sofrendo muito com a questão da Covid. E é normal que isso aconteça. Eu acredito que o presidente vai continuar firme e lutando pela nação. E eu acredito no presidente.
Quais outras observações gostaria de fazer?
Eu tinha um certo capital político, por ter saído do tribunal. Eu cheguei a ter 3% numa pesquisa em São José do Rio Preto, sem ser candidato. Eu não era conhecido aqui. Eu comecei do zero. O tanto que eu cresci, eu devo muito a Deus, e, lógico, à minha biografia também, mas muito ao presidente Bolsonaro. Eu acredito que ele só me ajudou. Estamos confiantes. Lutamos quase um ano e meio nessa candidatura. A gente não pode lamentar nada. Temos que tirar lições positivas disso tudo.