Opção do ex-ministro Sergio Moro por consultoria privada não surpreende

A hipótese de o ex-ministro da Justiça Sergio Moro optar pela advocacia especializada, diante de eventual insucesso no governo Jair Bolsonaro e frustração na política, foi prevista em dezembro de 2018.

Em perfil na Folha sob o título “Estrategista, Moro leva projeto Lava Jato para dentro da política”, publicamos que o ex-juiz federal poderia seguir os passos do advogado Adam Kaufmann, ex-promotor de Nova York, especialista em crimes do colarinho branco.

Essa avaliação foi reforçada pela opinião do advogado e ex-ministro do STJ Gilson Dipp, mentor dos juízes especializados em lavagem de dinheiro: “Quem não gostaria de ter Sergio Moro como advogado?”

Gilson Dipp, um dos principais artífices das varas de crimes financeiros, foi, segundo a jornalista Maria Cristina Fernandes, do Valor, “um dos juízes mais temidos pelos escritórios de advocacia do país”.

Em abril de 2015, a jornalista observou que “o ministro aposentado do STJ foi preservado no oratório do comandante da Lava Jato a despeito do seu parecer contra a espinha dorsal da operação, a delação do doleiro Alberto Youssef”.

“A assessores que lhe cobraram a preferência, Moro disse que o parecer não é do juiz, mas do advogado”, registrou ela.

No início de novembro, Vinicius Konchinski, colaborador do UOL, informou que Moro havia voltado a trabalhar depois de cumprir os seis meses de quarentena após deixar o governo. O ex-ministro estava atuando na área de compliance (área do direito na qual advogados ajudam seus clientes a cumprir leis e regulamentos).

No último final de semana, Rodrigo Carro, do Valor, revelou a estreia de Moro como sócio-diretor da Alvarez & Marsal, empresa de consultoria norte-americana.

A notícia gerou manifestações nas redes sociais sugerindo o risco de conflito de interesses. O ex-ministro nega.

Reportagem de Katna Baran, na Folha, informa que Moro foi apresentado pela consultoria como um especialista em liderar investigações anticorrupção complexas relacionadas a crimes de colarinho branco, lavagem de dinheiro e crime organizado.

“Tanto como ministro quanto como juiz federal, Moro colaborou com autoridades de países da América Latina, América do Norte e Europa na investigação de casos criminais internacionais relacionados a suborno, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e crime organizado”, diz o texto.

Uma das empresas investigadas é a Odebrecht, que assinou um acordo bilionário para cooperar com as investigações a partir de 2016.

Pelo Twitter, Moro disse que não há conflitos de interesse porque não vai atuar na advocacia. “Ingresso nos quadros da renomada empresa de consultoria internacional Alvarez & Marsal para ajudar as empresas a fazer coisa certa, com políticas de integridade e anticorrupção. Não é advocacia, nem atuarei em casos de potencial conflito de interesses”, escreveu.

A reportagem cita outros ex-funcionários de governo que atuam naquela consultoria: Steve Spiegelhalter, ex-promotor do Departamento de Justiça dos EUA; Bill Waldie, agente especial aposentado do FBI; Anita Alvarez, ex-procuradora do condado em que está localizada a cidade de Chicago, nos EUA; e Robert DeCicco, ex-funcionário civil da NSA, Agência de Segurança Nacional americana.

(*) Com acréscimo de informações às 18h08