‘Estamos mais próximos à barbárie do que podemos imaginar’, diz Lagrasta
O texto a seguir é de autoria do escritor Caetano Lagrasta, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo. Traz reflexões a partir do livro “Três pragas do vírus: política internacional, dívida e emprego na pandemia”, do jornalista Vinicius Torres Freire, colunista da Folha, onde escreve sobre economia e política.
A obra de Vinicius, lançada pela Editora Todavia, mostra como as ideias de cooperação internacional, dívida estatal e trabalho estarão no centro do mundo que poderá emergir da pandemia da Covid-19. Segundo os editores, “com rigor, erudição e urgência, o autor aponta os desafios que teremos daqui para a frente, bem como os erros que cometemos no passado e as maneiras de evitá-los nesse futuro que começa a se anunciar”.
Vinicius é graduado em ciências sociais pela USP e mestre em administração pública pela Universidade Harvard.
Além de autor de obras jurídicas, Lagrasta é fotógrafo, escreve poemas, contos e crônicas. Fez roteiros de cinema e argumentos musicais. Em abril de 2020, publicou neste Blog um ensaio sobre os possíveis efeitos da pandemia no Judiciário.
“Só o medo consegue remover montanhas jurídicas”, foi o título que escolheu.
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Acabo de ler o livro de Vinicius Torres Freire, “Três pragas do vírus: política internacional, dívida e emprego na pandemia” (Ed. Todavia, 2020), que recebi dia 22.
Três capítulos, o primeiro pandemia e implicações na política internacional; o segundo – que enfrentei com muita dificuldade – ao envolver conhecimentos específicos sobre a dívida pública e, por fim, ao discorrer sobre o trabalho, produz reflexões objetivas e próximas, diante de problemática mais evidente: o trabalho em casa, a desocupação dos escritórios e da indústria (Detroit), consequências à conduta e aos hábitos, especialmente quanto à interação e o lazer. O fim do emprego; a dependência aos meios tecnológicos, a robotização; a perda do contato humano; retorno à vida das cavernas?
Refletindo: com a volta maciça das pessoas a seus lares (cavernas), a rua e os espaços públicos restam abandonados e caem integralmente sob o domínio dos marginais ou da barbárie. Desaparecerão a solidariedade, a ética, a disciplina, o respeito?
Num momento de quebra da proteção ao trabalhador e desaparecimento dos sindicatos, como será a garantia de emprego e salários?
Todos devem adquirir armas para se proteger, diante da ameaça de invasão das propriedades pelas pessoas mais rigorosamente punidas pela fome, miséria e desemprego? Ou pode o cidadão confiar na Segurança, Educação e Saúde dispensadas por esse governo pusilânime, para dizer o mínimo?
As reflexões obrigatórias impostas pelo autor nos mostram estarmos mais próximos à barbárie do que podemos imaginar.
Teremos vacinas ao alcance de todos, e ao mesmo tempo? Poderemos toma-las sem qualquer temor? Deve-se aceitar como verdade, a partir da opinião de cientistas, que a Civilização (diante da destruição do meio ambiente e de suas florestas) irá escapar a novos vírus e epidemias, num espaço de tempo reduzido?
Se imaginarmos que a cada dois ou três anos, como já se mostra óbvio, haja novo contágio e consequente pandemia, será possível reconstruir novas formas de vida e convivência; novas atividades de trabalho e consumo, com aquisição de bens duráveis; nova vacina; criação de leis de proteção aos alimentos e ao cidadão?
Qual será o futuro de nossos filhos e netos, sob as ameaça da lei do mais forte, do regime ditatorial e da exclusão aos direitos do cidadão?
Os regimes democráticos sobreviverão, se houver a queda dos princípios na esfera internacional?
A partir do momento que países periféricos deixarem de saldar suas dívidas e cumprir compromissos ou moratórias com o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial, por absoluta falta de meios, ruirá o sistema financeiro e o domínio de países autodenominados “impérios”.
Desta forma, motivado estará, como nos exemplos de 1929 e 2008, o surgimento de trágicas e mais profundas formas de destruição da Humanidade, devidas à incontrolável violência, nas cidades e no campo, além da instigação a conflitos mundiais, promovidas por aqueles países que detenham capacidade de readquirir o poder e estender seus domínios a povos nômades, famintos e escravizados. E, admitir que, por sorte, serão estes localizáveis e destruídos por ‘drones’ manobrados à distância ou, o que seria talvez mais eficaz, através dos espargimentos químico e mortal, a partir de um ataque invisível, sistemático e rápido.
Otimismo, Esperança, ONDE?