Operação Greenfield: as ironias e o insucesso da coordenação a distância (3)
Celso Três deixou a Greenfield depois da divulgação da nota em que a maioria do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF) questionou sua designação.
Ele atribui a adversários de Aras o “linchamento” na mídia por divulgar que “não queria trabalhar”. Três fez essa afirmação em mensagem aos membros remanescentes da Greenfield quando propôs seu plano de trabalho –“caminhos alternativos à decisão do colegiado”.
Na mensagem, em que mistura queixas e ironias, disse que, “sem qualquer estrutura própria, atuando à distância” (…), nenhum dos sete membros voluntários estava na sede da apuração, em Brasília, “tudo em acúmulo à faina do próprio ofício, de per si já sobrecarregado”.
“Hoje remanescemos com sete membros. Daria título de filme: ‘Montanha de processos e os sete em diáspora’”. “Mais que previsível, certo, é que esta ‘batata quente’ de Greenfield seguirá assando nas nossas mãos”, afirmou.
Ao apresentar o plano de trabalho Três previu que ninguém seria compreensivo. “Pior. Ainda dirão que fomos designados para liquidar com a investigação”.
Disse que, se fosse Aras, “simplesmente teria dissolvido a FT, determinando a distribuição total entre os membros da PR/DF, sujeitando o procurador natural e a chefia da PR/DF à corregedoria em razão do abandono”.
Sobre uma comissão nomeada na PR/DF, disse que ela deveria ter tido outra finalidade: se houve abandono de trabalho, deveria tratar de inquérito disciplinar, e não procurar quem assumisse a Greenfield.
Cirurgia radical
Três propôs como primeira providência uma “cirurgia radical, retirando, declinando à PR/DF (como prevê portaria do PGR), tudo que não seja lesão direta e imediata aos fundos de pensão”.
A segunda providência, considerando a carência de recursos humanos e materiais, diante do gigantismo da apuração e lentidão do aparelho judiciário, seria uma “linha de produção de ANPP/I (Acordos de Não Persecução Penal/Improbidade), modulando o enquadramento típico aos limites do instituto”.
“A ANPP/I é para isto mesmo: não investigar, tampouco não processar e, inobstante, resolver”, escreveu.
Três reservava à Polícia Federal uma função crucial: toda investigação, incluindo improbidade, deveria ser enviada à PF.
“Não temos capacidade (humana e material) de instruir [colher provas]”, afirmou.
“Se nos embrenharmos no mar dos R$ bilhões/trilhões decantados pelo Anselmo [Anselmo Lopes, ex-procurador natural] no Simba [Sistema de Investigação de Movimentações Bancárias] e RIFs (Relatórios de Inteligência Financeira) do Coaf, nadaremos, nadaremos e sucumbiremos abraçados. Precisa surfar e não abraçar a onda”, disse.
“Urge tirar os fundos da zona de conforto. Não basta colaborar com a investigação. Isto é básico. Quem não contribuir, além da responsabilização respectiva, deve ser objeto de nota pública aos aposentados e pensionistas, apontando a defecção”.
“Não consumado ANPP/I, sabido que a condenação criminal e improbidade tem requisitos muito além da responsabilidade civil contratual, fundos devem ajuizar as demandas”.
Segundo Três, “o norte essencial buscado seria a reparação do dano, recompor os desvios amazônicos dos fundos de pensão, vítimas, computados os dependentes, às centenas de milhares”.
No desfecho da mensagem, escreveu o comentário irônico que chegou à mídia:
“Decididamente, não estou aqui para trabalhar muito. (…) Trabalhei [anos antes] pela sobrevivência, não porque achasse bom. Hoje, quero é jogar futebol”.
Três sugeria submeter ao colegiado o rodízio do procurador designado, “até porque não sou insano de querer permanecer neste status.”
O procurador admitiu que errou ao usar termos impróprios, ironias e metáforas indevidas ao descrever a colegas –em mensagens internas– as inúmeras adversidades em que estavam metidos.
Ele deixou registrado que se dispôs a colaborar “sem nenhuma contraprestação (diárias, viagens, remuneração por acumulação de ofício, glamour …).
Sua curta passagem pela Greenfield mereceu muitas críticas de procuradores do MPF.
OUTRO LADO
Em nota enviada ao Blog, na última quarta-feira (14), a Procuradoria-Geral da República nega que a Lava Jato tenha sido desmantelada.
Em relação à Greenfield, a PGR informa:
“A Administração Superior abriu processos públicos para que os interessados em integrar os respectivos grupos pudessem se inscrever por meio de editais.
Desde que o procurador natural [Anselmo Lopes] decidiu deixar a força tarefa em setembro de 2020, houve reuniões com membros da PR/DF, a 5ª Câmara de Coordenação e Revisão, além do envio de ofício a cada um dos procuradores da unidade questionando sobre interesse em assumir o caso como procurador natural. Essas medidas antecederam a publicação do edital para a escolha de um novo titular para os feitos.”
A PGR afirma que “não houve impugnação da escolha por parte do Conselho Superior, mas críticas e ilações públicas em relação a manifestações do procurador que se dispôs a dar continuidade ao trabalho”.
“Os desdobramentos do caso continuam em curso e, assim como ocorreu em 2020, têm sido conduzidos de forma transparente e nos limites e foros próprios para a demanda.”
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Este é o terceiro e último post sobre a desmontagem da força-tarefa Greenfield, criada em 2016 na Procuradoria da República do Distrito Federal. Leia também:
Operação Greenfield: extinção prematura e lenta desmontagem da força-tarefa
Operação Greenfield: Aras contraria a cúpula do MPF e indica um aliado