Celso de Mello critica discurso de ódio e intolerância de deputado bolsonarista
Em manifestação enviada ao jornal Integração, de Tatuí (SP), o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello condenou o “espírito de intolerância” do deputado estadual Frederico D’Ávila (PSL-SP). Em discurso na Assembleia Legislativa, o deputado bolsonarista ofendeu o papa Francisco e o arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, a quem chamou de “vagabundo” e “safado”.
“A manifestação desprezível desse parlamentar que se revela indigno do mandato que titulariza constitui uma das razões que degradam, ética e politicamente, o Parlamento e que fomentam a crise do Poder Legislativo…”, afirmou o ex-decano do STF.
Aposentado, Celso de Mello manteve o hábito de reservar informações e comentários exclusivos para o veículo de sua terra natal, dirigido por José Reiner Fernandes, seu amigo.
Em novembro de 2019, quando estava em julgamento a prisão em segunda instância, Celso de Mello foi alvo de ataques pela internet. Uma mensagem chegou a sugerir que o ministro não aparecesse mais na cidade, Fernandes revelou à Folha.
O jornal Integração registrou que “em Tatuí existe uma ‘milícia digital’, aliada ao mais odioso pensamento de extrema direita”. O editor Fernandes atribui a iniciativa a grupos bolsonaristas que pretendiam “proclamar” uma “condenação prematura” do ministro ao “exílio”.
Na nota, publicada na edição deste sábado (23), o ministro faz uma crítica veemente ao “sentido de ódio” veiculado no discurso do parlamentar do PSL. O texto recorre à ironia e usa vários pontos de exclamação. Sugere o estilo das conversas do decano com advogados, promotores, magistrados e amigos no Café Canção, na praça da Matriz de Tatuí.
Eis a íntegra da manifestação:
“Nunca ouvi discurso ‘esteticamente tão elegante e profundo em sua sólida reflexão!!!!’. Esse congressista certamente está no nível de um Ruy, de um Pinheiro Machado, de um Afonso Arinos, de um Paulo Brossard… Estaria mesmo? Obviamente, NÃO!!!
O nível vergonhoso desse pronunciamento parlamentar nos faz descrer da seriedade e da integridade moral desse congressista!!! O grau de dissenso político não permite que a divergência se degrade ao nível da irracionalidade e do insulto…
O sentido de ódio veiculado nesse discurso só faz evidenciar o espírito de intolerância de quem não tem argumento sério e consistente para expor! Cabe jamais esquecer, como destacado pela UNESCO em encontro internacional promovido pelas Nações Unidas sobre democracia e tolerância: ‘Tolerância nada mais é do que a harmonia na divergência!’
O insulto reduz o coeficiente de dignidade e respeito pela alteridade daquele que o profere!
A manifestação desprezível desse parlamentar que se revela indigno do mandato que titulariza constitui uma das razões que degradam, ética e politicamente, o Parlamento e que fomentam a crise do Poder Legislativo…”.