Muito além da suspensão do concurso – 2

Frederico Vasconcelos

Do corregedor do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador José Renato Nalini, em entrevista ao jornalista Carlos Costa, publicada na edição de junho de 2012 da revista “Diálogos & Debates”, editada pela Escola Paulista da Magistratura:

(…)

O exame de seleção de futuros juízes, por mais que se empenhe na captação dos vocacionados, não deixa de ser avaliação mnemônica. Ou seja: afere-se quem conseguiu decorar textos legislativos, doutrinários e jurisprudenciais.

Isso não é suficiente para alguém ser bom juiz.

Se eu pudesse, entregaria a tarefa de recrutar juízes à Escola da Magistratura, como já disse, a única grande novidade do Judiciário no século XX.

Basta indagar: que empresa prestigiada entrega seu setor de recrutamento a amadores? É o que se faz no Judiciário. Elegem-se membros da Banca Examinadora a partir de antiguidade, homenagens, cota por seção do Tribunal.

Cada integrante participa uma vez, assim a cada concurso o critério é um, com a filosofia, ideologia, formação e história desses examinadores, até mesmo suas idiossincrasias.

Por isso empresas exitosas e os melhores escritórios não têm dificuldade para recrutar bons quadros, enquanto as comissões de concurso de ingresso na Magistratura continuam a lamentar o despreparo dos candidatos.

Ambos: o profissional bem-sucedido na vida privada e o futuro juiz são produzidos pelas mesmas escolas de Direito.

Onde está a verdade? Ou estão certos tanto os Tribunais como os empregadores, que não têm o erário para remunerar seus profissionais?

Comentários

  1. Fred, parabens pela postagem. Fico muito feliz em ver que o Poder Judiciário brasileiro está de fato avançando, quando li o artigo do Desembargador Renato Nalini fiquei extremamente confiante, pois, a coisa emperrada a 200 anos começa a andar de forma clara, objetiva e tenho certeza que essa mudança não retrocederá jamais. O TJSP é o carro chefe, os outros tribunais não terão saída, as mudanças virão, mais cedo e mais tarde. Parabens ao Desembargador pelo texto, isso sim, é lucidez.

  2. Perfeita a declaração do Desembargador. É um erro deixar a seleção dos novos juízes à uma banca composta por amadores. Esse é o ponto que deve ser debatido e exposto pela imprensa.
    Diferentemente do que vem sendo noticiado por parte da mídia, não ocorrem desvios éticos nos exames de ingresso às carreiras jurídicas. O problema é outro: escolher examinadores realmente qualificados. Achei ótima a ideia do desembargador de deixar a tarefa a cargo da Escola da Magistratura, que, sem dúvida, é uma instituição qualificada para tanto.

  3. Extremamente lúcidas as considerações do Corregedor. Acrescento dizendo que raramente se vê hoje um jurista tarimbado e já assentado na profissão entre os candidatos nos concusos da magistratura, principalmente dos Estados. A maioria dos candidatos são desempregados que sobrevivem às custas dos pais, sem qualquer experiência, mas que acabam obtendo sucesso devido à conhecida decoreba. E vale repetir o questionamento do douto Corregedor: “que empresa prestigiada entrega seu setor de recrutamento a amadores?”

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